Cotidiano: Conto - Instantes Idiossincráticos

0 Comments

Trouxe trabalho para casa de novo. Estava sentado à mesa da copa, terminando de preencher um relatório. Minha esposa estava na cozinha fazendo massa de pão, ela nunca lembra de colocar farinha o suficiente para a massa não grudar nas mãos. Minhas costas já estavam me incomodando há meia hora, precisava me levantar.

Fui até o rádio, coloquei um cd do Franz Ferdinand e pulei até a faixa Take Me Out. Me espreguicei levando os dois braços o máximo para trás que iam, fechei os olhos e soltei a respiração vagarosamente. Olhei para ela. Estava acompanhando o ritmo da música com a cabeça enquanto apertava mais a pobre massa.

Ela não demorou a reparar que eu estava a observando, me olhou e sorriu. Limpou o máximo que conseguiu as mãos e veio marchando em minha direção no ritmo das marcações com a guitarra. Comecei a me mexer também, mas sem sair do lugar. Ela chegou a uma distância de uns dois metros de mim e eu comecei a fingir que tocava bateria, com os pulsos cruzados, tocando minhas baquetas invisíveis no compasso da música. Ela pegou uma guitarra, também imaginária, e se pôs a me acompanhar.

Lá pela metade da música a segurei pela cintura e a puxei mais para perto, ainda nos remexíamos, dançando. Ela olhou nos meus olhos e mordeu o lábio inferior. Peguei um pouco de massa de sua mão e sujei seu nariz, ela riu e se afastou cerca de quatro passos. Então teve início a parte final da música, com mais marcações de ritmo com a guitarra, ela se virou e voltou a marchar para mim, quando a música acabou ela sussurrou, já perto o suficiente para que seus lábios alcançassem minha orelha:

  – Eu amo você.

Ela se afastou um pouco e nos beijamos. O cd começou a tocar The Dark Of The Matinée, sem parar de me beijar ela estendeu o braço e pausou a música. Mais alguns segundos se passaram e enfim nossos lábios se desvencilharam. Ela foi se distanciando, olhando para o meu rosto, enquanto eu ainda curtia o momento. Então notei que minhas mãos estavam sujas de massa de pão, entrei no banheiro para lavá-las e o momento se foi.

Autoria: Arthur Dias
Blog: DiscoDiVinil



Então galera, gostaram do conto? Eu fiquei in love! É muita perfeição. O conto mostra uma situação tão simples no nosso dia a dia, mas ao mesmo tempo é uma coisa significativa e que trás algo bom pra gente. Eu sorri lendo o conto. De verdade.

Se vocês quiserem confiram mais coisas que o Arthur escreve, é só dar um pulinho no blog dele, o DiscoDiVinil, e ler os outros contos. Um melhor que o outro. Vale a pena dar uma olhada.

PS.: Hoje é o último dia do ano de 2013!


Mais posts para você:

Nenhum comentário: